Editorial

American Way of Life
"Here in Kentucky, we sin hard to pray hard!"
~ anonymous
("Aqui em Kentucky, pecamos muito para rezarmos muito!)
Maio TUDA, TUDA Maio!

Recém chegado de uma incursão na cultura americana em pleno solo americano, TUDA tem casos & coisas para dividir - e homenagear.

Quando James Truslow Adams cunhou o termo "Sonho Americano" em seu livro de 1931, The Epic of America, ele quis dizer "… o sonho de uma terra em que a vida deve ser melhor e mais rica e mais plena para todos, com oportunidade para cada um de acordo com sua capacidade ou realização". Difícil de interpretar e conceber tal sonho, um sonho de ordem social em que cada um deve ser capaz de alcançar sua estatura máxima, de acordo com suas capacidades, e serem reconhecidos por isso, independentemente das circunstâncias fortuitas de credo, raça, nascimento ou posição.

Bonito esse tal de "Sonho Americano" e toda essa suposta igualdade de oportunidades e de liberdade, e et ceteras, mas Adams não contava com "O Capital" - sem soar piegas!

A própria frase tem mudado ao longo da história dos Estados Unidos, e o significado mais estampado na memória de todo o mundo (exceto dos EUA) é o da oportunidade de conseguir mais riqueza do que realmente se precisa - e novos jargões surgiram, como "à procura do sonho americano" ou "vivendo o sonho americano" - e o jingoísmo dos Estados Unidos no direito de policiar o resto do mundo, que a era Bush filho veio reforçar... Bushinho realmente acreditava que a melhor raça do mundo pode e deve dominar os povos inferiores, e a melhor raça seria a dos estadosunidenses!

Política & economia à parte, na contra-mão da estupidez bushiana, vem essa TUDA, transbordando sonhos de mundos melhores, destilado ou daquele lado, com os já conhecidos pyndahýbicos, destimundo e de outros mundos, livres, desimpedidos, capazes, apocalípticos, integrados ou desintegrados, ocupadoss ou às toas, vem memso, vem logo, vem essa TUDA, sonhadora mas bem realista, resitir e insistir novamente!

Desnecessário dizer, como sempre, TUDA traz muita coisa boa, e novidades também. Confiram na Dívida Interna.

Velhos tempos em que TUDA revisava os textos...

É isso aí companheiros, na velha e suja LabUTA do dia a dia, que este mês ficou mais triste, com a partida do companheiro, jornalista, escritor, poeta e cientista político mineiro Edmur Fonseca, aos 86 anos, no dia 2 de Maio. Edmur conheci em 94, 95, por ocasião da confecção dos livrinhos da Casa Pyndahýba - Amigos ou Contra-Lamúria, não me lembro bem. Edmur, sempre galhardo, costumava me dizer "... continue assim e você ainda será meu poeta preferido." Esse Edmur...

Deixa saudades, o Edmur...

Asyno Eduardo Miranda
o (auto-proclamado) editor
deste porto qvasyseguro da jlha do Eire
oje, dezº terçº dia do qvntº mez
d este Anno Domini de MMXIII

Dívida Interna

Old Kentucky Home or Negro Life at the South,
oil on canvas by Eastman Johnson, 1859
Editor
Eduardo Miranda

Capa
José Geraldo de Barros Martins

Digitação
Eduardo Miranda

Revisão
dos autores

Participam desta edição:
Aldo Votto, Aristides Klafke, Arnaldo Xavier, Brian Smith, Charles Bukowski, Chico Buarque de Hollanda, Dorival Fontana, Eastman Johnson, Edmur Fonseca (citado), Eduardo Miranda, Grant Wood, Hole Ousia, J.M.W. Turner, Jacopo Pontormo, John Steuart Curry, José Geraldo de Barros Martins, José Miranda Filho, Kimberly Conrad, Marina Alexiou, Oleg Tselkov, Paulo Leminski, Pedro Du Bois, Pieter Bruegel, Plínio de Aguiar, Ronald Augusto, Ronald Augusto, Roniwalter Jatobá, Sandra Nunes e Santiago de Novais

E-mail
tuda.papel.eletronico@gmail.com

Poesia - Arnaldo Xavier


Red Sky Warning, by Kimberly Conrad
subsenhor               No altar de cera             o sorriso do bode sem
cabeça                            Assunção de sagrada cauda sangre furtiva
semente                   O adorado tilinta nervoso                      no pires

[ in Lud-Lud, Casa Pyndahýba Editora, São Paulo, 1998 ]

Poesia - Aristides Klafke

Foto source: Hole Ousia
Fotomanipulação: Eduardo Miranda
2

Na tapera aranha é mato
Picumã cobre as cumeeiras
Janelas sem batentes
Portas, só os vãos
No chão batido, tocos de vela
Cacos de telhas por todo canto

O telhado pilhado evaporou...
No centro da sala, do que era sala
Um crânio de cachorro, ossos variados
Garrafas vazias, carvão da mobília queimada

O cheiro de cinza
O silêncio de cinza
O vazio de cinza...
É de cinza a poesia retida na lembrança
Que o escombro revela

Na tapera a arte é vista nas teias…
Aranha nela é mato
São as mesmas que vieram sonorizar estas linhas

De súbito )volúpia de vôo( o ruflar de asas:
Curiango, morcego, coruja, assombração…
Mera imaginação… ou recordação do susto passado?

Os grilos, invisíveis, indivisíveis, infinitos
Residindo na reminiscência...

[ in Quebrada, inédito ]

Poesia - Plínio de Aguiar

http://whatismatter.files.wordpress.com/2010/01/wishiwereaman.jpg
WWII Allied Propaganda Poster

À luz de uma praça ou à sombra de e.e.cummings

4
merdamericanos
dis (à sombra) cu
      tem a paz (as pom
      bas a bom
                       BA!) no
                                   quartel

Poesia - Santiago de Novais

Imagem enviada pelo autor
Gênesis

mistério sobre o sol na areia
eia - diga -oa-a-a-a-a-o-a-o-a-a-a-ah!
viver sem meus ossinhos, só música e fadiga
sooooooooooooooooooooool!
vivir sin mis ositos de fora do Circo escutando a gargalhada
               quem sou?disse o bardo sentado no Buda
               O–colo-do–Buda-é-Bege! Eu seu, herege!
viver não é mais nem menos que pluma
pppp pu uuuuuuuuummmmmmaaaa!
veloz vivo como um ao vivo
ao pavio e e e aeeespummmaaa!
               quem sou?disse o bardo sentado na Bunda
               O–colo-da–Bunda-é-Roxo! Eu seu, Mocho!

Poesia - Dorival Fontana


Hermaphrodite Figure, by
Jacopo Pontormo

Hermafrodito

A brisa da manhã
tocava sua pele virgem...
a cumplicidade do toque,
a confidência do olhar,
a insinuação dos corpos,
o contato mais íntimo,
a fantasia real-concreta-abstrata...
amor, sexo e a completude de ambos.
A paz se harmoniza em pleno prazer
sem preconcebidos conceitos.
Orgasmos jorram absolutos
na intensidade do sentir-se sem culpa.
Tudo consiste na busca:
da felicidade, da minimização da dor,
do carinho mais rude,
da violência do afago,
da penetração sem haver,
do beijo de todas as bocas,
da língua atrevida entrelaçando-nos.
Hoje me desfaço de todos os sonhos
infanto-adolescentes-frustrados.
Não quero o amor que nunca encontrei.
Quero apenas a perfeição dessa noite.

Poesia - Pedro Du Bois

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Even the Butterfly - Brian Smith
9x12" pencil on paper
Olhar

No olhar diversificado
percebo à direita
o senso oposto
ao esquerdo lado
das contradições: retorno
                              ao mediano
                              olhar
                              espantado
                              no plano
                              horizontal

na frente dos olhos repousa
a lagarta encasulada em futura
borboleta.

Poesia - Aldo Votto

Uma rua em Marçà, Município da Comarca de Priorat, Área Funcional de Camp de Tarragona, Província de Tarragona, Comunidade Autônoma de Catalônia, Espanha
Photo: Eduardo Miranda, Maio/2013
Há o Mistério,
Há o mistério,
E há o teu mistério:
para onde mira a tua alma?

Porque teus olhos, eu sei.
Eles enxergam a dor do mundo
E o sentido mais fundo do viver

Eles percebem também
a minha perplexidade
e o tudo que não verei

Eles sabem de mim
o que nunca sonhei,
a impressão do que fui
e do menino que ainda serei

eles tem o facho potente
da luz que sempre desejei
alumiam o rumo
e desvelam a direção
que devo seguir
nos tantíssimos passos
que me faltam para voltar
ao tempo de onde recém cheguei

Poesia - Marina Alexiou

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O caminho rumo ao calvário – Pieter Bruegel
Ilustração enviada pela autora

Entre tantos fatos invertidos
O espelho da vida reflete a incongruência
Como um sol... , detrás de densas nuvens de poeira
A polvilhar os olhares esgazeados, oblíquos e vazios
Da multidão que segue os passos de uma invisível dança,
Sentindo o amargor como puro mel.
Nesse mundo de planos discordes
A Obra segue acontecendo longe das atenções
Distante de qualquer misericórdia,
Num trigal que não se transformará em alimento futuro...
No entremeio, o moleiro mói os grãos
Cevados em ventos de colinas imberbes.
E põe-se a admirar o côncavo das singelas imagens
Formando doces contornos, com uma imperceptível prece
A minimizar o peso daquela cruz, e
Coração do cenário da existência.
Que, em sua cadência, como um divino rio
Irriga os deturpados espíritos.

Crônica - Roniwalter Jatobá

The Missing Tram- Sandra Nunes, 16x22 cm
O Passado Nos Trilhos

Vidas passadas? Vaivém, o assunto chega à tona. Nada contra. O que acho estranho é que, em geral, os adeptos se acreditam reencarnações de homens ou mulheres, sempre famosos.

Nunca fiz a tal terapia de regressão. Para ser sincero, tenho medo. Imagino ter de cara um abalo cerebral e ficar ligado somente no passado, sem a mínima consciência do presente ou do futuro. Numa noite, estava deitado no sofá de casa. Chovia. Silêncio na rua sem movimento de carros. De repente, começo a ter um relaxamento profundo. Tão profundo que penso ser assim o envolvimento da morte. De olhos bem fechados, começo a visualizar cenas confusas, mas que logo começam a tomar formas bem nítidas.

O local lembra São Paulo, que logo descubro nos anos 10, início do século XX. Concentrado na estação da Avenida Celso Garcia, no Brás, sou um trabalhador perdido na multidão, em meio a um movimento de grevistas da antiga Light.

Os bondes estão parados. A Light, ciente da greve, havia tomado todas as precauções possíveis para que o transporte coletivo não fosse interrompido. Para esse fim, conseguiu reter naquela estação dois ou três motorneiros e outros tantos condutores, a fim de fazer sair o carro do correio. Tenta, ainda, o início do tráfego dos bondes do horário, contando para isso com os motorneiros reservas e com o pessoal da manutenção, que conhecem bem o serviço.

Consigo conversar com dois reservas e com o pessoal da manutenção, que disseram não sair com os bondes, como pretendia a gerência da empresa, pois, além de serem solidários com seus companheiros, tinham muito amor à vida.

De longe, ouvi então os chefes do movimento. Já era madrugada. Ocultos pela sombra de uma árvore, na Rua Progresso, observavam o movimento no interior da estação.

Nesse momento, a chuva aperta. À luz dos relâmpagos podia--se ver a disposição daqueles trabalhadores, envoltos em pesadas capas, chapéus desabados e grandes cacetes na mão direita. Quando me aproximo, destaca-se do grupo um rapagão com capa de borracha e portando grossa bengala. Olha firme nos meus olhos e, sem dúvida, me toma por uma pessoa suspeita. Sem dar tempo que eu esboce uma simples palavra, disse bruscamente:

-- Quem é você?

Respondo que sou um simples trabalhador e apenas espero o bonde, o primeiro bonde da manhã.

-- Também apoio a greve – digo mansamente como um amigo. Ele, porém, parece não acreditar, pois me fita de forma estranha. Mostro, então, a caderneta de trabalho, e só então o misterioso personagem fica satisfeito e, me puxando para um lugar mais escuro, disse:

-- Como vê, sou motorneiro; tenho família, porém, antes de tudo está a nossa dignidade ofendida por nossos chefes. Nós somos piores que escravos. Não podemos falar com os companheiros, não podemos fumar, enfim, somos obrigados a uma disciplina maior que a da força pública. O senhor é trabalhador, deve saber os motivos da greve. Só porque fundamos uma sociedade para zelar dos nossos direitos, a companhia agitou-se, houve conferência entre os chefes e, ao primeiro pretexto o nosso presidente e um ou outro companheiro, que eram excelentes empregados, foram demitidos. Já cansados de uma série de humilhações resolvemos, então, declarar a greve pacífica, contando com o apoio de todos os companheiros.

Digo:

-- Se todos os seus companheiros aderiram ao movimento como vai sair um bonde?

-- Posso lhe garantir que nenhum bonde sai daqui. Já tivemos conhecimento de que um único motorneiro quer sair com o carro, mas não sairá. Garanto.

Na verdade, as coisas estavam dispostas de tal forma que seria imprudência, de consequências fatais, se saísse um bonde...

-- Olhe, só aqui nesta rua eu tenho à minha disposição cerca de cem pessoas... Quer vê-las? -- e colocou dois dedos na boca, dando um assobio estridente.

De repente, como por encanto, aparece na minha frente um batalhão de grevistas.

-- Vê: estão todos armados – me diz o líder. -- Queremos, porém, a paz e só em último caso é que faremos valer os nossos direitos. O que motivou a greve foram algumas ordens colocadas em vigor pela Light, com relação a nós.

Os olhos dele brilhavam na esquina escurecida. Na verdade, eu estava bastante assustado. Afinal, esperava ali apenas o primeiro bonde, o primeiro carro da manhã. O homem continua:

-- São ordens vexatórias – e gesticula com um papel na mão. – Veja e mostre no seu local de trabalho – e me deu uma folha impressa, na qual constava que “todo empregado que for apanhado em conversação na plataforma do bonde será severamente punido, não havendo desculpa de qualidade alguma”.

Neste momento, chega à estação um automóvel. Trazia mister Ford, superintendente da Light, e mais outros empregados da categoria. Em todas as ruas das proximidades, viam-se grupos de motorneiros. Em frente à estação, no interior do Café Intendência, havia um grande movimento. Ouvia-se de vez em quando:

-- Viva a greve!

Quatro bondes, porém, estavam sendo limpos e engraxados pelo pessoal de serviço interno, a fim de saírem para o serviço. Do interior da estação, chegava a voz de mister Ford que insistia com um motorneiro para que saísse com o carro do correio.

O trabalhador, porém, respondia:

-- Não, doutor, tenha paciência. Eu tenho família...

Eram três horas da manhã.

A chuva passara. Na esquina da Rua Progresso estacionou o grupo de grevistas. Naquela hora, havia ali, somente, um sargento e duas praças da guarda cívica. Logo depois, chegaram dois agentes acompanhados de um alferes da guarda cívica e do terceiro subdelegado do Brás.

Dois deles se dirigiram ao grupo e pediram que se dispersasse. Só um grevista não atendeu e o alferes lhe deu voz de prisão. Foi o bastante para que os ânimos se exaltassem, e uma cacetada foi vibrada nas costas do militar.

O alferes sacou da sua espada e avançou resolutamente para os grevistas, juntamente com o subdelegado e um agente. Foram, então, recebidos com uma verdadeira descarga, disparando-se mais de cem tiros de revólver.

A cena foi rápida, pois os grevistas, após o tiroteio, fugiram. O alferes recebeu uma bala na mão direita, além de diversas cacetadas, inclusive uma que lhe produziu um ferimento no sobrolho direito. Um guarda da quinta companhia de guarda cívica, também recebeu uma bala na perna direita. Na ocasião foram presos dois motorneiros, recolhidos ao xadrez do Brás.

Avisada, a polícia central chegou ao local pouco tempo depois, principiando a dispersar os grevistas, que, favorecidos pela chuva e pela escuridão, continuam a fazer tropelias.

Finalmente, às 4 horas da manhã, saía o bonde do correio. Levava dois soldados de armas embaladas e era acompanhado por um soldado de cavalaria. A esse bonde nada sucedeu, pois os grevistas consentiram com a sua saída. Logo, chegaram mais 80 praças de cavalaria sob o comando de um sargento.

Animado com isso, um motorneiro fura-greve, que todos chamavam de Torero, aventurou-se a sair com um bonde, levando um condutor. Ao chegar à Rua Bresser, um numeroso grupo de grevistas atacou o bonde, tirando a alavanca e fazendo-o parar. Torero levou algumas cacetadas, ficando com um corte na cabeça e ferido no braço esquerdo. Ao condutor nada aconteceu, porque fugiu assim que viu o movimento.

Nisso, interveio a cavalaria com novo tiroteio. Ao meu lado, um motorneiro recebeu um ferimento na mão esquerda. Acredito que naquela hora havia outros gravemente feridos, pois após o tiroteio tinham armas espalhadas no chão: uma na Rua Progresso, junto à soleira da porta de uma casa, com três cápsulas detonadas, e outra, no quintal de um armazém da Rua Bresser, porém com as cinco cápsulas intactas.

A madrugada paulistana ainda iria ser palco de memoráveis acontecimentos... Na Rua Progresso vejo armas de fogo espalhadas pelo calçamento. Mais adiante, um grupo de grevistas corre e se esconde em esquinas nubladas de garoa. Guardas atiram na escuridão. Em seguida, chega mais um reforço de dez praças da guarda cívica. Junto à estação da Alameda Glette, um alferes conferencia com alguns motorneiros, que declararam guiar os bondes, se tivessem garantias.

-- Vamos, saiam logo – grita o militar. – Vamos, rápido.

O dia clareava. Um veículo, protegido por quatro guardas armados, sai da estação sob o comando do motorneiro Francisco Cilento. Na portaria, os grevistas, nessa hora amedrontados com a carga que a cavalaria fizera sobre eles, deixaram o bonde sair.

Ouvi, ao longe, o disparo de três tiros de revólver. Um carro de carga, que passava pela Avenida Rangel Pestana, foi assaltado nas proximidades de um posto policial. Caído ao chão, com uma mancha de sangue na camisa bege, um grevista grita:

-- Socorro! Socorro, vou morrer.

Os bondes, em número muito limitado, começaram a correr pelos trilhos ao lado da estação da Alameda Glette. O conflito amainava. Os grevistas mais exaltados sumiam na sombra de ruas mal iluminadas. Sem maiores problemas, os bondes já transitavam pela Avenida Rangel Pestana.

Na tentativa de minar o movimento grevista, a Light havia impedido a saída do pessoal que recolhia os bondes e fechava o turno.

-- Quem for embora está despedido – alertava o superintendente, mister Ford.

Ao amanhecer, havia na estação da Alameda Glette trabalhador suficiente para colocar todos os bondes em movimento. O pessoal exausto, que passara a noite longe de casa, estava a postos. Às escondidas, eles elogiavam os companheiros que resistiram na estação do Brás, mas se sentiam tristes por serem obrigados a logo iniciar o trabalho nas diferentes linhas da cidade.

Às seis da manhã, saiu o primeiro carro, o da Liberdade, e depois outro, o do Correio. Quando deixaram a estação, porém, um grupo de grevistas se colocou à frente dos veículos. Um praça mirou o revólver em direção à perna do líder.

-- Se subir, atiro sem dó nem piedade – ameaçou.

Os homens, armados apenas de paus, correram para a esquina e não ousaram mais enfrentar os policiais. Assim, seguidamente, com irregularidade de horários, saíram outros veículos, todos guardados por força armada.

Cada vez mais longe, ouvia os gritos dos ativistas:

-- Viva a greve!

O movimento chegava ao fim. Mas, aumentava o descontentamento entre os empregados. Confirmava isso os comentários que faziam, mesmo aqueles que não aderiram à greve. Queixavam-se da situação em que viviam, muitas vezes obrigados a trabalhar horas excessivas para não sofrerem a perda do emprego.

-- Só vejo exploração – diz um condutor parado em frente à plataforma do bonde 183. -- Veja se tem cabimento: somos até obrigados a fazer uniformes em determinado alfaiate que goza de favores da companhia.

Às oito da manhã, a greve termina. Logo a seguir, saíram os bondes 243 e 63, mas não eram os números que passavam ao lado da metalúrgica onde trabalho. Logo, pego o bonde para a Ponte Grande, o primeiro da manhã para o meu destino.

Conto - José Geraldo de Barros Martins

Ilustração de José Geraldo de Barros Martins
E o Destino Assim Kiss

Ozualdo Braga Ometecídio era a revelação de uma nova corrente cinematográfica, que rompia com todos os parâmetros estabelecidos de foco, enquadramento, iluminação, roteiro, cenário, edição, etc… Suas duas obras de estréia “A Cruz que Carrego” e “Tudo Fizeram Pra Me Derrotar” fizeram um sucesso retumbante… A primeira, rodada em cinemascope, mostra a saga de um instalador de anúncios luminosos que por uma estranha coincidência, sempre tem colocar cruzes em cima dos edifícios de sua metrópole, pois os prédios que requisitam seu trabalho são sempre hospitais ou templos religiosos… o protagonista descobre o verdadeiro motivo desta simultaniedade de signos quando conhece uma balconista de uma farmácia, que se revela uma pessoa profundamente religiosa… A segunda obra, em que travellings intermináveis são misturados a flashes de lances polêmicos de jogos de futebol da década de 70, relata a estória de um funcionário público paranóico que convence seus colegas de trabalho a se entrincherarem na repartição pública, para resistir militarmente a onda mundial de desemprego… a cena final apresenta o céu da capital paulista infestado de para-quedistas norte-americanos…

O jovem diretor estava querendo finalizar sua primeira triologia, porém não escolhera o título nem a atriz de sua próxima película… A indecisão fez dele um ser extremamente distraído, tanto que não reparou que seu telefone tocava. Era Isaura Maria, uma mulher pertencente a mais antiga das profissões, cujo cafetão, um ex-campeão de tiro-ao-alvo, inventou uma revolucionária estratégia de tele-marketing para oferecer seus serviços… A jovem ficou muito emocionada quando ouviu a música da secretária eletrônica : “Eu Vou tirar Você Deste Lugar”, que narra a sina de um homem que vai em uma casa de meretrício, se apaixona por uma garota e promete levá-la para seu lar, sem dar importância ao que os outros comentariam…

A nossa amiga achou que aquela canção de Odair José, era um sinal do destino e ligou no dia seguinte, não para oferecer-se, mas fingindo ser um engano puxou conversa, e marcou um encontro para a mesma noite (sem a intenção de cobrar, é claro).

Quando Ozualdo a viu não teve mais dúvida: a atriz deveria ser ela, pois somente seu olhar diáfano traria substância psíquica à personagem e o título ? Este deveria ser algo sugestivo, com um jogo de linguagem que remetesse a um erotismo tênue: “E o Destino Assim Kiss”.

Sete semanas mais tarde estavam iniciando as filmagens no enorme quintal de uma mansão alugada no bairro de Riviera Paulista… no lado externo da residência um carro acaba de estacionar, seu motorista possui um rifle automático (prêmio de um torneio de tiro-ao-alvo em Cuiabá). No interior da casa, uma atriz estreante olha encantada para um jovem diretor que grita: Luz, Câmera, Acão!!!

Conto - José Miranda Filho

http://www.artguide.com.au/assets/turner_peace_burial_at_sea_n00528.jpg
Peace - Burial at Sea, 1842
by J.M.W. Turner
Encontro de Amigos - Parte 18

Aeroporto de Garanhuns, Recife, manhã do dia 22 de fevereiro de 2005. O dia estava calmo e quente. O sol brilhava mais do que o costume. A temperatura oscilava naquele momento entre 28 e 30 graus. A aeronave da Air France havia pousado há cinco minutos. A multidão impaciente se espremia entre as colunas de sustentação do edifício e as escadas que dão acesso à pista. A polícia militar tinha dificuldade para manter a ordem e evitar invasão da pista de pouso. O saguão do aeroporto estava lotado de artistas, jornalistas, políticos, governadores de vários estados do Brasil, senadores, deputados, prefeitos, embaixadores, ministros, e até o Vice-Presidente da República, representando o Presidente, em viagem para o exterior, para inaugurar o escritório diplomático do Brasil nos Emirados Árabes. O governo Pernambucano preparou-lhe as exéquias, com a honra e a dignidade que sempre o norteou em vida.

A aeronave pousou exatamente ás onze horas no local reservado às autoridades, para que o ataúde pudesse ser retirado pelos soldados do corpo de bombeiros e levado à viatura, previamente estacionada no local. Todos queriam ver o esquife do Dr. Stevenson. Ao ser retirado o ataúde da aeronave, o governador de Pernambuco prestou-lhe uma homenagem através dos soldados palacianos, com uma salva de tiros de canhão. O esquife, tendo à frente Dona Josefina, a viúva, Edward e Alex, os filhos e Robson, seu secretário particular, e acompanhado pela multidão seguiu pelas ruas principais até a sede do Governo aonde o corpo seria velado durante toda a noite. Soldados das Forças Armadas, em posição de sentido à frente do ataúde, demonstravam o sentimento com aquele que em vida fora o baluarte de suas reivindicações. O corpo permaneceu no salão nobre do Palácio dos Aflitos até as 14 horas do dia seguinte, quando a guarda de honra da Polícia Militar, formada por seis cadetes transportou o esquife, coberto pela bandeira do Brasil, de Pernambuco e do Náutico Esporte Clube, seu time preferido, até a viatura do corpo de bombeiros, previamente preparada e estacionada à entrada do salão nobre. O corneteiro tocou o toque de silêncio, numa última homenagem àquele que em vida não fez outra coisa senão trabalhar para a Pátria e pela Pátria.

O esquife foi colocado sobre a viatura dos bombeiros e seguido por uma multidão entristecida que acompanhou o cortejo pelas ruas de Recife, aplaudindo e jogando pétalas de rosas sobre o ataúde. O povo aclamava e consagrava o féretro do ex-embaixador. A cena era comovente. Nunca havia visto coisa igual até a morte de Tancredo Neves.

Doutor Stevenson era um homem muito estimado na Capital Pernambucana, cidade aonde nasceu em 16 de novembro de 1937. Fez os primeiros estudos no antigo colégio Anchieta, cursou a faculdade de Direito de Recife e pós-graduação em Comunicação Social. Em 1957, após um acirrado concurso ao Itamarati, doutor Stevenson foi aprovado e nomeado Oficial de Consulado.

Seu corpo foi sepultado no cemitério local, no mausoléu da família, ao lado dos pais e irmãos. Na lápide de mármore de Carrara, branca e azul, está grifada em negrume as seguintes palavras; “aeternum vale” : “Aqui jaz um homem que viveu e lutou pela pátria. Aviltado pelos inimigos açodou-se em provar sua inocência, o que fez com tamanha exatidão que a honra lhe foi restaurada ainda em vida. A Liberdade, a igualdade e a fraternidade serão a argamassa que irá consolidar o seu caráter.”

Tradução - Eduardo Miranda

http://www.saatchi-gallery.co.uk/imgs/artists/tselkov_oleg/20120912032205_Tselkov_Theather_main.jpg
Oleg Tselkov ~ Theater
2008, Canvas, oil

Fato

poesia cuidadosa
e pessoas
cuidadosas
duram
apenas o tempo
necessário
para
morrerem
em segurança.
Fact
by Charles Bukowski

careful poetry

and careful
people
last
only long
enough
to
die
safely.

Foreign Words - Chico Buarque de Hollanda

http://4.bp.blogspot.com/-9eCw4JvI9yI/TwHSO9XRDAI/AAAAAAAAAM4/4_5SYij01X4/s1600/iracema.jpg
Anagrama
Iracema Flew
translated by Eduardo Miranda

Iracema flew
To live abroad
Take woolen clothes
Feels so proud
Goes to a movie from time to time
Doesn't like nursery rhymes
Washes floor in a tea room
Has walked under the moon
Dating a mimic
aims to study
classical singing
Doesn't play the fool to the police
Tries to live by her own
Misses her hometown
But not much
Some days, reckless
Call me like a ballade:

It's Iracema from abroad

Iracema Voou

Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita
Me liga a cobrar

É Iracema da América

Releitura - Paulo Leminski

http://ethicsalarms.files.wordpress.com/2011/12/its-a-wonderful-life-its-a-wonderful-life.jpg

Podem ficar com a realidade
Esse baixo astral
Em que tudo entra pelo cano

Eu quero viver de verdade
Eu fico com o cinema americano

Ilustração - Grant Wood

http://classconnection.s3.amazonaws.com/203/flashcards/1007203/jpg/picture251335748293979.jpg
American Gothic ~ Grant Wood
1930, oil on beaverboard

Ilustração - John Steuart Curry

http://classconnection.s3.amazonaws.com/70/flashcards/2442070/jpg/31159_curry_imageprimacy_6401355350340990.jpg
Baptism in Kansas ~ John Steuart Curry, 1928

Ensaio - Ronald Augusto


Os versos fraturados de Orfeu da Conceição
“E uma última palavra: esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura deste país - melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esforço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca.”
Vinicius de Moraes
Essas anotações (deixadas à parte e incompletas), relativas aos tópicos verso/métrica e metapoesia, são estudos provisórios com vistas a uma futura aventura de análise que, espero, não demore a acontecer, e nasceram de forma subsidiária de um artigo que escrevi a propósito de outros aspectos da peça Orfeu da Conceição de Vinicius de Moraes. A tragédia carioca foi encenada pela primeira vez em 1956 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A obra Orfeu da Conceição é, sob vários aspectos, desbravadora, pois o poeta, se antecipando a muitos autores de teatro, a escreveu para que fosse encenada por um elenco de atores negros – fato até então inédito em nossa dramaturgia. Notável também o esforço de Vinicius de Moraes na recriação do mito grego de Orfeu, transculturando-o, em termos de sincronia, para o Brasil dos anos 40/50, ou seja, a persona de Orfeu é afivelada, agora, sobre um rosto negro e reaparece no cenário de um morro do Rio de Janeiro.

Fiel, a princípio, às fontes mitológicas, Vinicius define um dos assuntos de sua tragédia, isto é, a própria poesia, já na primeira fala de Orfeu, quando a personagem diz: “ORFEU: Toda a música é minha, eu sou Orfeu!”.1 Como o herói trágico é poeta e músico não há como escapar das indicações metalinguísticas e da referência à tarefa criativa (semelhante motivação se encontra em dois filmes de Jean Cocteau, também dedicados ao mito de Orfeu: Orphée, 1950; e Le testament d’Orphée, 1959). E o Orfeu negro, sambista carioca, prossegue na mesma toada: “Tudo o que eu aprendi, da posição/ À harmonia, e que se nada fez/ É porque fez demais, fez poesia”.2 Ainda sobre o quesito do “poema que se dobra sobre si mesmo”, temos esses versos: “ORFEU: Um gosto sem palavras, como só/ A música pode dar…”.3

Os versos de Orfeu da Conceição – os dos diálogos dramáticos – são, no geral, decassilábicos ou decassílabos. Embora nas letras das músicas os metros sejam mais curtos (versos cujas variedades oscilam de 5 a 7, 8 sílabas no máximo), em vários momentos deparamos um decassílabo disfarçado, oculto na quebra de um verso para outro. Todavia, eventualmente vislumbramos a ocorrência de alexandrinos também negaceados através do encadeamento entre os versos. A contaminação semiótica é recíproca: os versos, portadores da narrativa dramática, apesar de a cadência, em momentos-chave, torná-los um pouco rituais, solenes e hieráticos, não deixam de se revelar surpreendentemente distensos, hesitantes e domésticos. Por outro lado, na estrutura secreta das letras dos sambas onde, por inércia, preferimos sobrevalorizar o acento naïf e a ginga, Vinicius consegue incrustar dados e convenções da tecnologia versificatória que pareciam estranhos a essa manifestação de arte popular. Essa transação de signos, essa encruza cambiante de informações estéticas começou a se materializar em Orfeu da Conceição a partir do instante em que – como ele mesmo escreve no prefácio à peça – Vinicius de Moraes sentiu “no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca”.4 Portanto, a propósito do que está escrito acima, note-se, por exemplo, que na primeira música da peça, o samba “Um nome de mulher…”,5 a análise da métrica revela o uso do enjambement na ocultação, primeiro, de um dodecassílabo: “E um homem que se preza/ em prantos se desfaz” (tônicas na 6ª e 10ª sílabas); a seguir ouvimos o(s) verso(s): “E faz o que não quer/ e perde a paz”, que é, com efeito, um decassílabo heroico (tônicas na 6ª e 10ª sílabas) dissimulado no arranjo versificatório da letra.

Na mesma perspectiva de uma metrificação flexível e das fraturas do verso – enjambement/ encadeamento –, é possível observar o esquema, consagrado na tradição do teatro em versos, da passagem e da preservação da estrutura métrica através do diálogo entre as personagens, conforme se observa nesse exemplo onde, na voz de Eurídice, o virtual decassílabo “Mem/bri/a/gar/des/tre/las…”6 é interrompido na sétima sílaba métrica que é átona, mas sendo complementado, em seguida, já na voz de Orfeu com as três sílabas métricas finais “Ah/ne/guin/ha…”. O verso completo, sem o parcelamento métrico entre Eurídice e Orfeu que o executam a duas vozes, à maneira de um jogral, ficaria assim: “Me embriagar de estrelas… Ah, neguinha!”. Vinicius de Moraes ministra a sua cultura poética (esse fine excess associado à poesia) no vaso poroso das formas populares; a aspereza dúctil da fala na educação pela métrica da tradição versificatória clássica. Qualidades díspares de linguagem postas em relação; e onde uma não deve ser sobreposta à outra.

Mais uma nota referente à questão do metapoema em Orfeu da Conceição. ORFEU: “Ah, minha Eurídice/ Meu verso, meu silêncio, minha música”.7 No fragmento: o amor cortês, essencialmente trovadoresco. Orfeu corteja tanto a sua arte quanto Eurídice, ele se refere a uma em termos da outra. Entoa: “minha música”: a incidência etimológica na metáfora.

Ainda sobre a questão da metrificação e de seu nagaceio nos versos de dois sambas: “Eu e o meu amor…”;8 e “Não posso esquecer/ o teu olhar…”.9 Os dois últimos versos do primeiro samba formam, na verdade, um alexandrino (inclusive com a presença da tônica na 6ª sílaba), graças ao recurso do enjambement que o dissimula do seguinte modo: “E foi-se embora/ Para nunca mais voltar…”. Já no segundo samba, também apenas no desfecho da letra, cujos versos todos são, à exceção do último, de extensão mais curta (oscilam de quatro a seis sílabas), vemos a irrupção de um decassílabo heroico, metro, aliás, predominante na estrutura desse drama em versos. Vejamos o verso de dez sílabas (acentuação na sexta e décima sílabas): “Sereno dos meus olhos já correu…”.

Vinicius de Moraes em Orfeu da Conceição enfrenta o desafio da voz dramática cujo verso deve ter outra liga; trata-se quase da “palavra voando”, metáfora por meio da qual Joyce define a letra cantada; é quase isso.Borges, por sua vez, afirma que o verso que se impõe como pronúncia “nos faz lembrar que antes de arte escrita foi uma arte oral: o verso nos lembra que inicialmente foi um canto”. Um canto que se foi. Entre as três vozes da poesia T. S. Eliot considera a voz dramática – as outras são a épica e a lírica – como a mais desafiadora ao gênio do poeta. Quando o autor de The waste land sublinha a voz dramática, em detrimento da épica e da lírica, ele fala em termos de uma reconquista, como ganho, do teatro em versos, talvez porque as características mais híbridas concentradas em tal forma poética favoreçam a conjugação, sem muitos conflitos, daquelas e, inclusive, de outras vozes.

Notas

1. MORAES, Vinicius de. Orfeu da Conceição (tragédia carioca). Rio de Janeiro: Editora Dois Amigos, 1956. p.: 19
2. Idem ibidem. p. 22
3. Idem ibidem. p. 23
4. Idem ibidem. p. 14
5. Idem ibidem. p. 26
6. Idem ibidem. p. 28
7. Idem ibidem. p. 33
8. Idem ibidem. p. 76
9. Idem ibidem. p. 79