Conto - José Miranda Filho

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Peace - Burial at Sea, 1842
by J.M.W. Turner
Encontro de Amigos - Parte 18

Aeroporto de Garanhuns, Recife, manhã do dia 22 de fevereiro de 2005. O dia estava calmo e quente. O sol brilhava mais do que o costume. A temperatura oscilava naquele momento entre 28 e 30 graus. A aeronave da Air France havia pousado há cinco minutos. A multidão impaciente se espremia entre as colunas de sustentação do edifício e as escadas que dão acesso à pista. A polícia militar tinha dificuldade para manter a ordem e evitar invasão da pista de pouso. O saguão do aeroporto estava lotado de artistas, jornalistas, políticos, governadores de vários estados do Brasil, senadores, deputados, prefeitos, embaixadores, ministros, e até o Vice-Presidente da República, representando o Presidente, em viagem para o exterior, para inaugurar o escritório diplomático do Brasil nos Emirados Árabes. O governo Pernambucano preparou-lhe as exéquias, com a honra e a dignidade que sempre o norteou em vida.

A aeronave pousou exatamente ás onze horas no local reservado às autoridades, para que o ataúde pudesse ser retirado pelos soldados do corpo de bombeiros e levado à viatura, previamente estacionada no local. Todos queriam ver o esquife do Dr. Stevenson. Ao ser retirado o ataúde da aeronave, o governador de Pernambuco prestou-lhe uma homenagem através dos soldados palacianos, com uma salva de tiros de canhão. O esquife, tendo à frente Dona Josefina, a viúva, Edward e Alex, os filhos e Robson, seu secretário particular, e acompanhado pela multidão seguiu pelas ruas principais até a sede do Governo aonde o corpo seria velado durante toda a noite. Soldados das Forças Armadas, em posição de sentido à frente do ataúde, demonstravam o sentimento com aquele que em vida fora o baluarte de suas reivindicações. O corpo permaneceu no salão nobre do Palácio dos Aflitos até as 14 horas do dia seguinte, quando a guarda de honra da Polícia Militar, formada por seis cadetes transportou o esquife, coberto pela bandeira do Brasil, de Pernambuco e do Náutico Esporte Clube, seu time preferido, até a viatura do corpo de bombeiros, previamente preparada e estacionada à entrada do salão nobre. O corneteiro tocou o toque de silêncio, numa última homenagem àquele que em vida não fez outra coisa senão trabalhar para a Pátria e pela Pátria.

O esquife foi colocado sobre a viatura dos bombeiros e seguido por uma multidão entristecida que acompanhou o cortejo pelas ruas de Recife, aplaudindo e jogando pétalas de rosas sobre o ataúde. O povo aclamava e consagrava o féretro do ex-embaixador. A cena era comovente. Nunca havia visto coisa igual até a morte de Tancredo Neves.

Doutor Stevenson era um homem muito estimado na Capital Pernambucana, cidade aonde nasceu em 16 de novembro de 1937. Fez os primeiros estudos no antigo colégio Anchieta, cursou a faculdade de Direito de Recife e pós-graduação em Comunicação Social. Em 1957, após um acirrado concurso ao Itamarati, doutor Stevenson foi aprovado e nomeado Oficial de Consulado.

Seu corpo foi sepultado no cemitério local, no mausoléu da família, ao lado dos pais e irmãos. Na lápide de mármore de Carrara, branca e azul, está grifada em negrume as seguintes palavras; “aeternum vale” : “Aqui jaz um homem que viveu e lutou pela pátria. Aviltado pelos inimigos açodou-se em provar sua inocência, o que fez com tamanha exatidão que a honra lhe foi restaurada ainda em vida. A Liberdade, a igualdade e a fraternidade serão a argamassa que irá consolidar o seu caráter.”